Monday, June 4, 2007

Antes que eu esqueca (parte 2)

Passado o impacto inicial (enjoos, tristeza, solidao...) e depois de me acostumar (um pouco) com o ritmo do navio a vida durante os 20 dias tinha que encontrar um rumo. Eu nao podia ficar de frescura naquele momento, alem do que, as pessoas do grupo tinham sido tao atenciosas comigo que sentia que deveria estar de pe' e fazer o que eu tinha como objetivos. Nesse momento tambem estava iniciando toda a grande operacao que se realizou por todo o periodo que estivemos no navio: muito trabalho!!! Eu sempre gostei de assistir Discovery Channel e me vi participando de um daqueles documentarios.

Assim, o navio saiu de Honolulu, do porto da Universidade do Hawaii, que fica na ilha Oahu e foi na direcao da Big Island, depois dessa ilha, no futuro, devera' emergir uma nova ilha ja' que erupcoes submarinas e toda uma atividade vulcanica esta associada a essa regiao. O assoalho oceanico daquela regiao e' bem mapeado e eles sabiam onde tinham interesse de parar e realizar experimentos e coletar amostras. O navio parou em um ponto escolhido previamente e la' foi lancado o robo que se chama Jason. Eles tratavam o Jason como se fosse uma crianca mas ele na verdade tem formato de cubo (mais ou menos 2 m de aresta) com bracos articulados e cestas na parte da frente onde e' possivel descer experimentos ou coletar experimentos que foram deixados em expedicoes anteriores, alem de muitas cameras. Nesse momento eu comecei a me envolver com a brincadeira e achar que as coisas nao eram tao ruin assim.

O trabalho nao parava e tudo funcionava 24 horas por dia, em turnos de 4 horas. O meu turno era das 4 as 8 da manha e das 4 da tarde ate' 8 da noite. O turno da tarde era tranquilo, mas o da madrugada era complicado. Primeiro que nao era bem as 4 da manha que comecava, eu tinha que render a outra pessoa as 3:30 da manha para que ela me passasse o que estava rolando. Antes disso eu tinha que passar na cozinha e comer alguma coisa pois o segredo de ficar bem naquele lugar estava relacionado a ter barriga cheia. Toda vez que o estomago estava vazio eu ficava enjoada, assim eu tinha sempre a mao uns pacotinhos de crackers. Durante o meu turno eu era responsavel por gravar todas as imagens que eram enviadas pelo Jason que estava investigando o fundo oceanico, depois que eu saia do turno eu ainda tinha outra tarefa que era editar todos esses filmes que estavam sendo gravados. Eram horas e mais horas de filme que eu tinha que editar para conseguir um filme final de nao mais do que 20 minutos com os momentos importantes da expedicao. Uma questao dificil para mim era - o que e' importante? Esse nao e' o tipo de trabalho que realizo entao as vezes eu nao sabia ao certo qual a relevancia do que estava acontecendo, mas consegui fazer alguma coisa de util (pelo menos pareceu!!!). Os dias se arrastavam mas o fato de estar trabalahndo com alguma coisa, qualquer coisa que fosse, me dava uma sensacao melhor. A comunicacao com a familia era somente por e-mail e eu ficava louca na frente do computador escrevendo e anciosa por receber algumas palavras animadoras.

Ainda assim quase terminei de ler um livro de Henry James, fiquei muito tempo sentada no conves olhando o mar, sentindo o vento e pensando na vida, alem de ter visto golfinhos seguindo o navio e pulando num bale' que jamais irei esquecer. A noite depois do meu turno ficava no conves vendo a tripulacao do navio pescar e vi lulas cacando peixes pequenos, como eles usavam as lulas para pescar peixes maiores alguns pescavam lulas tambem. Me dava uma peninha pois as lulas eram colocadas no conves e la' elas ficavam mudando de cor e sofrendo ate' morrer. Tambem consegui ver a lava encontrando na agua atraves de uma constante fumaca na parte do dia e a noite via a lava vermelha indo de encontro ao oceano. Quando chegou a hora de ir embora, foi alegria total. Cheguei no aeroporto de Honolulu umas 6 horas antes do voo partir, isso para ter garantia que estava cada vez mais perto de casa (precisava desse apoio psicologico!!). Outra coisa interessante era que estava quente no Hawaii e eu com casacao pesado no braco, Minneapolis e seu frio terrivel estavam a minha espera...mas tudo que eu sonhava era com aquele frio "acolhedor". Trouxe 14 amostras que ja' foram devidamente analisadas e esta' em progresso outro cruzeiro para outubro. Disseram que estavam contando comigo nessa nova expedicao mas nao sei se eu consigo encarar tudo isso novamente.

Aqui uma parte do grupo separando as amostras que o Jason tinha trazido. Essa amostra e' uma sopa de bacterias/sedimento e agua. O robo tem um sistema em que ele aspira esse tipo de material e guarda nessas jarras. Depois que o Jason vem para superficie coloca as amostras em frasco e cada pesquisador faz o experimento associado. No meu caso eu tratei de matar as bacterias e analisei os oxidos de ferro. O trabalho e' bem bonitinho e espero que possamos publica-lo em breve.

Esse trambolho de "cabeca" amarela e' o Jason, nesse momento eles estao recuperando o robo de um mergulho de uma semana. E' uma operacao bem trabalhosa mas os "meninos do Jason", nove marmanjos, faziam tudo em harmonia.

Nao poderia deixar de colcoar uma imagem de um dos poucos por do sol que presenciei. Eu estava sempre no meu turno trabalhando nesse horario.

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